José Dias Coelho, artista militante <br>e militante revolucionário

Margarida Tengarrinha
José Dias Coelho tinha 38 anos quando uma brigada da PIDE o assassinou a tiro na antiga rua da Creche, que hoje tem o seu nome, em Alcântara.
Uma vida curta, desde muito cedo marcada por dois traços que iriam definir a sua personalidade: um raro talento artístico e a revolta contra as injustiças sociais e a opressão. Com treze/catorze anos, ainda estudante liceal, já era notado pela invulgar qualidade dos seus desenhos e a expressividade das caricaturas de colegas e professores. Vivia então em Castelo Branco, onde, pela proximidade da fronteira, se sentia fortemente a Guerra Civil de Espanha que seu pai, velho republicano, denunciava como um crime contra a Frente Popular e a República livremente eleita pelo povo espanhol.
A «Guernica» de Picasso (arrasada pelo bombardeamento da aviação nazi em 1937), assim como a pomba por ele desenhada para o Movimento Mundial da Paz, iriam ser para o Zé referências marcantes no seu percurso artístico e na sua opção política. Por isso, desde a primeira biografia do Zé que escrevi para a edição de «A Resistência em Portugal» editada em 1963 na União Soviética, lhe chamei Artista Militante e Militante Revolucionário, os dois traços indissociáveis do seu carácter, que iriam marcar o seu percurso de vida.
Escrevi então: «Artista militante e militante revolucionário, chegou a um momento da sua vida em que decidiu conscientemente sacrificar a sua actividade artística para continuar, no quadro de funcionários do Partido Comunista Português, o combate pelo derrubamento do fascismo e por um Portugal socialista. Foi um grande sacrifício. Mas nunca o ouvi pronunciar a palavra sacrifício.»


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